PROCESSO DE CRIAÇÃO LITERÁRIA
(ou, uma reflexão sobre a arte da escrita)
por Obed de Faria Junior
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I – Introdução
Se a fala é um dos aspectos que nos distinguem como seres mais evoluídos no reino animal, certamente, isso não se dá pelo ato em si de comunicar-se por signos e símbolos sonoros - até porque muitos animais também se comunicam com sons. O que releva é que temos o tal raciocínio inteligente; somos seres racionais e pensantes e nossa comunicação oral nada mais é que um reflexo disso. Ela é um complexo e maravilhoso sistema que permite a interação entre os seres desta nossa imperfeita espécie.
Nesse contexto, o desenvolvimento da escrita é um avanço e tanto e, considerando o tempo desde que nós primatas começamos a andar em pé, é uma inovação relativamente recente. Desde o homem pré-histórico, que registrou suas impressões em toscos grafismos rupestres, passando pelos hieróglifos nas pirâmides até chegarmos aos alfabetos de várias culturas e povos, essa evolução tem uma história muito interessante.
De qualquer forma, o que é de interesse, aqui, é que o homem não prescinde de interação com outros de sua espécie, não só porque seja um animal social e político, mas em função da própria preservação da dita espécie, posto que necessita transmitir por tradição o acúmulo de experiências de uma geração a outra. Além disso, desde o primeiro bisão pintado com lascas de carvão nas paredes de uma caverna ancestral, o que move o ser humano a registrar os fatos que ocorrem à sua volta e em seu ânimo interno é uma compulsiva necessidade de contar alguma coisa que, enfim, deixe a marca de sua identidade para o resto do mundo e pelo curso das eras.
Traduzindo em poucas palavras, nós escrevemos porque precisamos nos comunicar com outras pessoas e, ainda, padecemos dessa incontida necessidade de dizermos algo a respeito de nossas impressões sobre o universo.
É no bojo disso que, em algum lugar, a arte da escrita se insere e sobre esse nicho em particular da manifestação humana é que se pretende dizer alguma coisa - até porque eu também tenho a compulsão de dizer minhas impressões ao resto dos seres. Só estou rabiscando meus bisões.
II – Criações literárias artísticas e não artísticas
Em princípio, qualquer registro escrito pode ser considerado como literatura, na medida em que tudo que se escreve, obviamente, tem o objetivo de ser lido. Contudo, o processo de criação literária que aqui se aborda, visa tratar daquilo que possa ser considerado como obra artística; vale dizer, fala-se da literatura enquanto arte.
É um tanto quanto intuitivo distinguir-se o que seja literatura artística do que não seja.
Um relatório técnico sobre qualquer área do conhecimento humano, um manual de primeiros socorros, uma bula de remédio etc, por certo, são facilmente identificáveis como literatura não artística. Note-se que esse tipo de registro escrito, em princípio, se vale de metodologias para serem estruturados, já que há uma lógica seqüência que induz à formulação de proposituras que são pré-requisitos para o que, na seqüência, se pretende desenvolver e, enfim concluir.
Por outro lado, há os registros escritos de natureza informativa, tais quais notícias jornalísticas, textos didáticos e outros que tais. Alguns têm o condão de trazer à luz a informação sobre o que acontece – ou aconteceu – em nossa realidade e outros são meios de transmissão da informação que represente conhecimento acumulado.
Por fim, há o que se poderia qualificar como essencialmente artístico e é, justamente nesse ponto onde as coisas já não são tão evidentes quanto possa parecer. Qual o objetivo da arte? Filósofos e pensadores já se contorcem em suas elucubrações há milênios tentando definir uma resposta para isso.
É evidente que a arte visa a provocação de estímulos emocionais – e todo mundo ri, chora, se assusta, se comove etc, a partir de obras artísticas. Da mesma forma, a arte instiga à reflexão filosófica, cutucando a consciência de quem com ela tome contato, levando os seres a revisar e repensar seus conceitos e formas de comportamento – e todo mundo, admita ou não, tem um filósofo dentro de si. Não diferentemente a arte se presta ao entretenimento, vez que pode ser voltada a gerar prazeres e sensações agradáveis para quem dela se valha para preencher parcelas desta nossa vivência humana.
Entretanto, se é possível identificar minimamente uma obra artística pelos efeitos que gere – e eu, certamente, não cheguei nem perto de esgotar uma possível lista – não é tão simples assim definir-se se uma obra é artística ou não porque, enfim, isso passa pelo crivo de um aspecto subjetivo dos mais insondáveis, no caso, o gosto. Fácil, fácil qualquer um dirá que gosto não se discute. Fugindo do simplismo comodista da maioria eu diria, como muitos, que, sim, gosto não se discute, mas se lamenta. Ou seja, o que é bom, válido e agradável para uns, certamente, não o será para outros e, sem dúvida, jamais haverá o que agrade a todos.
Portanto, mesmo correndo o risco de afetar suscetibilidades de alguns, é impraticável discutir-se o que tenha algum valor artístico sem se enfrentar a difícil tarefa de analisar-se o que tenha ou não qualidade. Para que não se estenda muito essa indigesta tarefa, arrisco dizer que o que possui qualidade não é aquilo que tenha larga aceitação – até porque existe muita coisa ruim e que é extremamente popular – mas sim, aquilo que sobrevive a seu tempo e lugar de criação. Só o julgamento da história cultural é que pode, realmente, referendar o que de fato, tenha ou não um mínimo de qualidade.
Entretanto, partindo da experiência decorrente da análise do que já se acumulou no conhecimento humano ao longo das eras, certamente, é possível ter uma vaga noção – com razoável margem de segurança – que permita inferir que algo que nos seja contemporâneo tenha, em si, aspectos que lhe sejam inerentes e que levem à crença de que algo possui, realmente, algum valor consistente e qualidade livre de modismos.
Voltando a nosso foco específico, portanto, a criação artística literária é passível de razoável chances de identificação e, ainda, parte de processos variados, tanto quanto sejam as possibilidades da criatividade humana. Porém, imagino, é óbvio que todo processo de realização humana é analisável e passível de sistematização, de forma tal que se possa, minimante, reproduzir o que já existe, diversificar o que já foi feito e, ainda, promover a criação de variantes que, em si, são o dínamo propulsor da evolução humana.
Na seqüência, são apresentadas algumas reflexões sobre isso tudo.
III – Motivações para a arte escrita
Impraticável seria afirmar que é possível esgotar o rol dos motivos que podem levar alguém a criar artisticamente ou, no caso, produzir um texto. Contudo, nada impede que se façam alguns exercícios na busca de identificar, ao menos, alguns deles.
Como já se disse anteriormente, o pressuposto básico da criação escrita é que o produto final seja lido, caso contrário, não existiria razão de ser. Afinal, se a escrita é um meio de comunicação, não há o menor sentido lógico em imaginar-se que algo seja escrito se não for pelo motivo inevitável que haja a expectativa de leitura do que se escreveu.
Exploremos algumas possibilidades, a partir do foco de quem seja o destinatário da produção escrita.
Há quem escreva para si mesmo. Não se imagine que isso possa ser algum absurdo porque, mesmo sendo um meio de comunicação, não necessariamente se esteja querendo comunicar com algum outro ser. É perfeitamente provável que se criem textos como registros de momentos que se queira capturar, tal qual se faz com as fotografias.
É comum, por exemplo, a manutenção de diários que, depois de algum tempo, permitem que o “escritor” possa cotejar momentos diferentes em sua vida ou, ainda, simplesmente recordar de eventos que lhe foram marcantes. É uma forma, inclusive, de que alguém tente se conhecer melhor, para justificar as próprias posturas ou tentar, de alguma forma, modifica-las ou aperfeiçoa-las. Isso pode ser feito em volumes a isso destinados ou acumulados em papéis e papeluchos avulsos.
Existem os escritos que são criados visando um único e especifico destinatário. Cartas, por exemplo. Quantas e quantas obras magistrais não são, simplesmente, textos criados por alguém que quis dizer algo a outro alguém. Cartas, basicamente, são crônicas e, quando muito fantasiosas, podem ser até contos. Ninguém haverá de negar que um poema, eventualmente, também possa ser obra de um intento com tal fim. Mensagens pessoais em datas comemorativas também são um bom exemplo disso.
Há, também, os textos produzidos para atingir a um restrito grupo de pessoas. Familiares, grupos de amigos, de trabalho, de estudo etc. Não diferem muito, nesse sentido, daqueles textos criados para apenas um único destinatário.
Por fim, há as criações escritas destinadas a um público indefinido. São aquelas trazidas à luz e divulgadas para que sejam vistas ou descobertas por quem, indistintamente, delas tome conhecimento.
Alguém dirá que tais variantes não interferem no processo de criação e, certamente, isso não corresponde basicamente a uma verdade. Afinal, o ânimo de quem escreve, tenha consciência disso ou não, está diretamente vinculado à expectativa que tenha sobre o impacto do que irá criar perante quem vá ler o que foi escrito. Vejamos, por esse enfoque, algumas possibilidades.
Por exemplo, quem escreve somente para si pode despreocupar-se totalmente com juízos críticos alheios e, literalmente, soltar-se. Quem escreve para um destinatário específico espera que o que foi criado cause alguma reação também específica. Quem escreve para um grupo já parte da mesma premissa, mas tendo em vista um espectro maior de interesses. Por fim, quem lança seu texto no mundo tendo ciência que o acesso será, ou poderá vir a ser, irrestrito tem referências muito tênues dos resultados que isso possa causar no “público leitor”.
Independentemente de, por certo, algum texto visando um fim específico acabar tomando um rumo diverso do originalmente previsto, pode-se dizer que os níveis de autocrítica de quem escreve varia conforme sua particular expectativa de quem será ou serão as pessoas que tomarão contato com o que criou. Instintivamente, é comum que quanto maior seja a exposição que se pretenda, tão menor será a espontaneidade, porque o ser humano, por mais que crie máscaras e defesas, põe-se tão mais à vontade quanto maior for a intimidade da circunstância em que se exponha.
Outro fator relevante a ser considerado é a motivação emocional que leve um texto a ser criado. Vejamos, da mesma forma, algumas possibilidades.
Há quem escreva somente para desabafar. O papel – ou a tela, melhor dizer, hoje em dia – passa a ser o substituto do “ombro amigo”.
Se estiver escrevendo só para si mesmo, é uma questão de personalidade, porque aí tem-se quem, ao invés de falar sozinho e em voz alta, registra isso em palavras escritas. Se estiver escrevendo para outra ou outras pessoas está, obviamente, esperando que os destinatários reajam diante do que foi dito. Se for o ser amado, que tome conhecimento do que pulsa num peito apaixonado, por exemplo. Se for um grupo de pessoas, que se alinhem, compreendam ou se sensibilizem com o desabafo que foi feito. Se for para o mundo, indistintamente, é bem provável que o tal desabafo esteja procurando um verdadeiro “ombro amigo”, pois o texto é divulgado como uma mensagem de socorro dentro de uma garrafa lançada ao mar.
Há quem escreva para convencer, cooptar ou simplesmente buscar simpatia e solidariedade de outras pessoas. Não difere muito do desabafo, mudando apenas na assertividade que busca resposta positiva e não só a provocação de uma comoção qualquer que vá induzir à compaixão alheia.
Há quem escreva para, literalmente, aparecer. É fruto essencialmente de exibicionismo. Não se tomem tais palavras como uma forma de crítica sobre um aspecto negativo. Todo artista é um exibicionista, por excelência, seja lá qual for sua área de atuação. Contudo, quem pretende se exibir como fator primordial de criação escrita, fatalmente, acaba tropeçando num inibidor da criatividade, já que o foco estará totalmente voltado a buscar somente a atenção alheia. Quem se preocupa muito com o que os outros pensam, ou faz tudo para agradar muita gente, ou faz tudo para desagradar muita gente. Ambas as formas são maneiras de chamar a atenção.
Existem, também, aqueles que dizem algo porque imaginam que o que tenham a dizer simplesmente tem alguma relevância ou interesse por parte de outras pessoas. É irrelevante se o conteúdo seja, de fato, relevante ou interessante. O fato do escritor acreditar que isso possa existir é que interfere em seu processo criativo.
Por fim, há quem tenha reunidos todos esses fatores anteriormente mencionados: ânimo de expor desabafos pessoais; de promover a cooptação alheia a um determinado modo de ver as coisas; para expor seus pontos de vista, ideais e dotes artísticos; e, ainda, acredite na relevância do que tenha por ser dito. Creio, sinceramente, que isso tudo ocorre com quase todo mundo que tem o hábito de escrever, variando, talvez, a proporção que um ou outro fator tenha no conjunto.
Contudo, há quem, como todos, tenha esses fatores conjugados de acordo com seu modo particular de ser e, ainda, tenha um mínimo do que se possa chamar de “zelo literário”. Note-se que não se está dizendo que deva ter alguma explícita intenção literária. Por zelo literário entenda-se um mínimo de cuidado com a estética e o bom gosto.
Não se pretende, aqui, definir o que seja uma estética adequada e, menos ainda, o que seja ou não bom gosto. Isso se insere nas infinitas nuances que se multiplicam na liberdade de expressão humana.
O que se está chamando a atenção é que há quem, a partir de seu particular modo de ser, de fato se preocupe com a estética e o bom gosto – seja lá o que lhe vague no espírito como sendo tais coisas. A essa preocupação está-se, aqui, chamando de zelo literário que, na prática, corresponde a dizer que o ânimo criador guarda, por mínimo que possa ser, algum intento de que algo seja artístico.
IV – Das opções formais de criação
Entrando numa outra seara, há que se cogitar o que leva alguém a optar por um ou outro gênero literário e, ainda, dentro de cada gênero, qual modalidade desenvolver.
A quem opta pela prosa, resta definir se irá enveredar por uma criação ficcional ou não ficcional, se será narrativa ou dissertativa.
Quando a opção é pela poesia, fica em aberto a escolha sobre formas acadêmicas, modernas ou pós-modernas; realistas ou abstratas, objetivas ou subjetivas, metafóricas ou figurativas e, por aí vai.
Ainda, remanesce o enorme espectro de opções quantitativas, desde um minimalismo extremo, passando por textos pequenos, caminhando por algo mais ou menos extenso, até obras de grande porte.
Alguém dirá que tais opções são, essencialmente, decorrentes da personalidade e do gosto de quem escreve e, certamente, não estará dizendo nenhuma heresia – até porque isso é óbvio.
Quem, por natureza, seja mais inventivo, haverá de ter mais doses de ficção em sua obra. Quem, por natureza, seja adepto da síntese, haverá de ter uma maior tendência ao minimalismo. Quem, por natureza, seja mais subjetivo, haverá de enveredar por expressões poéticas com maior recorrência. A lista é tão variada quanto variada possa ser a própria natureza humana.
Contudo, há fatores que raramente são considerados por quem não se detenha sobre sua própria consciência criativa. Vejamos alguns.
Quem domina a prosa com proficiência tende a ter mais facilidade na hora de buscar opções de expressão poética. Ou seja, quem possui um vocabulário razoável, tem traquejo com questões ortográficas, variações léxicas, construções semânticas etc, sempre terá um repertório de opções muito maior para se expressar poeticamente do que quem está limitado pela deficiência em algum ou alguns desses aspectos.
Não é novidade que quem tem o hábito de ler muito, tende a escrever melhor. Ainda, quem tem o desapego de ler variados gêneros, enriquece suas próprias possibilidades de escrita. Por conseqüência, em sentido inverso, quem se fica adstrito à linguagem oral e a abordagens superficiais, haverá de sentir, eventualmente, alguma inibição no momento de expor suas próprias idéias e criações – por mais talentoso que possa ser.
Em outras palavras, como em qualquer atividade humana, quem busca mais variedade e informação tende a alavancar o próprio aprendizado e, quem aprende mais tende a dominar mais técnicas e, assim, também, quem domina mais técnicas tende a desenvolver opções variadas que possam servir de ferramenta à própria criatividade.
Portanto, além da personalidade de cada um e do gosto em particular que nutra, certamente, quem busca se aprimorar agregará muito mais opções que, certamente, influem no momento da opção pela forma do que pretenda produzir como criação sua.
Quem possui poucas opções, tende a reproduzir as mesmas formas à exaustão. Quem possui várias opções, tende a enveredar por variantes que servem de estímulo e meio de vazão à própria criatividade. Tanto em um caso, como no outro, a personalidade e o gosto do escritor sempre estarão presentes mas, daí, como pano de fundo ao que vier a criar e não como a única fonte de referência para sua criação.
V – Das opções de conteúdos de criação
Talvez, a definição do conteúdo de uma criação literária seja o aspecto de mais difícil análise. Penso que isso implicaria em tentar desvendar as insondáveis e infinitas profundezas da alma humana. Seria mais do que ambiciosa uma tal tentativa; certamente, seria utópica – e sou pragmático demais para, sequer, esboçar algo assim.
Só penso que algumas considerações podem ser feitas e que, imagino, talvez tenham alguma serventia para um exercício meramente reflexivo.
Toda expressão humana de natureza realizadora nasce, penso eu, de dois fundamentos básicos: vocação e talento.
Vocação é aquele “chamado” silencioso que alguém ouve a partir de seu objeto de interesse e que o atrai especificamente para alguma atividade. Diria, em termos bem coloquiais, é quando se identifica que alguém “tem jeito pra coisa”.
Talento é característica inerente ao próprio ser e que representa aquele conjunto de aptidões inatas que impliquem em desenvoltura natural de evidente eficácia para o exercício de determinada atividade.
Nada disso tem a ver com habilidade. Habilidade é questão de estudo e esforço; de técnica e exercício; de aprofundamento na teoria e aplicação na prática.
Nem todo mundo que possui vocação, possui talento para alguma coisa. O contrário, também, é verdade. Quem reúne os dois ao mesmo tempo, tem maiores possibilidades de sucesso naquilo que se lance a fazer. Se a isso agregar habilidade, então o resultado positivo é quase inevitável.
Por outro lado, quem desenvolva a habilidade com afinco, por certo pode superar, muitas vezes, gente com vocação e talento mas que não se dedica o suficiente. Ao menos na arte, o esforço nunca deixa de ser recompensado.
Voltemos a falar das opções de conteúdo numa criação literária, em específico. Quem escreve quer dizer algo. Portanto, é óbvio que melhor escreverá quem tiver o melhor a dizer. A questão é: o que é “o melhor a dizer”? Não há uma resposta que satisfaça total e inquestionavelmente a isso, contudo, há alguns indícios que possam ser de alguma valia.
Um atento observador sempre terá o que relatar, não interessa sobre o que se lance a dizer. Sempre notará novos detalhes, por mais que tudo pareça banal e corriqueiro aos outros. Sempre suprirá lacunas com algo novo, ou realinhando o que existe de uma nova forma. Sempre poderá fantasiar, quando a realidade que conhece não lhe socorrer. Sempre buscará no instinto e na intuição aquilo que a razão e o conhecimento não conseguem traduzir.
Ainda, é possível dizer que, quem imita, sempre aprende; porém, quem só maquia o que copia, deixando de acrescentar, além da maquiagem, algo de seu, não cria nada substancial. Tomar o que já existe como parâmetro é a essência do processo de acumulação do conhecimento humano; porém, criador é aquele que honra o que recebeu de sua cultura ancestral, mas deixando algum legado seu que também a enriqueça para os que virão.
A repetição é um exercício que aprimora a prática; contudo, a falta de variação embota e mata o espírito criativo. Fazer e desfazer; fazer de novo e novamente tornar a fazer e refazer; tudo isso torna criação e criador cada vez mais íntimos. Contudo, satisfazer-se no comodismo de nunca tentar algo novo, gera a estagnação e, daí, a intimidade se transmuta em modorrenta indiferença e, então, o casamento entre criador e criação tende a desembocar na monotonia.
Encerrando estes comentários sobre conteúdo, nunca é demais dizer que seria muito triste para o verde se todos gostassem do amarelo; e, ainda, que é absurdo que alguém diga que não gostou sem ao menos provar.
VI – Conclusão
Talvez haja quem diga que é uma perda de tempo ficar tentando desvendar o próprio processo de criação literária, por se tratar de uma grande tolice. Pode até ser que seja, mesmo. Afinal, dizem que o papel aceita tudo – apesar de que, sempre é bom tomar algum cuidado, porque dentro desse espírito, inventaram o papel higiênico.
Se, realmente, alguém não se importa com o resultado do que escreve, porém, tem satisfação pelo simples ato de escrever, não há motivos para ficar remoendo sobre seu próprio processo criativo. Nada há por ser recriminado, portanto.
Contudo, se alguém se importa, em maior ou menor grau, com o resultado daquilo que escreve, nunca é demais dedicar algum tempo para sondar como e porque isso acontece e, ainda, se for de seu interesse, procurar aprimorar-se para que tal resultado traga, não só a satisfação para quem escreve mas, ainda, algum alento para a expectativa de quem possa vir a ler.
Não se trata, portanto, de deixar-se induzir pela preferência alheia para definir o que e como se cria, mas sim, de demonstrar um mínimo de respeito e consideração com quem, de forma intencional ou não, venha a ter contato com o que foi criado.
Obed de Faria Junior
http://obed.zip.net/
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